domingo, 15 de junho de 2008

Os animais

Bali não é propriamente um paraíso para os animais. Não é um paraíso, no sentido em que as pessoas não têm os animais como nós, para andar ao colo, fazer festas, levar ao veterinário, dar comida cara enlatada, enfim, serem tratados como os humanos!
Em Bali os animais têm que se salvar como puderem. Não falando dos que são “nativos” como as osgas, as pererecas e os gecos, essênciasi à saudável manutenção da mosquitada, em Bali há muita bicharada.
Os Macacos, que são sagrados para os Balinenses, serão eventualmente os mais sortudos: podem comer as oferendas à vontade que ninguém os incomoda. Aliás, podem roubar o que quiserem para comer que ninguém lhes faz nada.
Seguem-se os Galos de luta, que têm direito a colo e festas desde que cumpram com a sua parte do acordo. Têm a sua época de descanso quando os Deuses não querem luta, retomando o seu trabalho durante o resto do ano.
Galinhas e Pintos é o que não falta por todo o lado. Assim se compreende porque é que se houver um surto de gripe das aves, está tudo perdido! Eles andam no meio da estrada, dentro das casas, por todo o lado e juntamente com as pessoas.
Gatos também há alguns: muito magros e esfomeados, mas são sempre gatos. Safam-se bem roubando aqui e ali.
Os cães, serão os com pior sorte. Têm o corpo coberto de feridas e sem pelo, o que lhes dá um ar podre. No entanto, há 6 anos quando estive em Bali achei que estavam muito piores. As coisas melhoraram um bocado desde então, mas nem assim ficaram bem. Alguns têm a sorte de terem dono e estão em muito boas condições, mas os vadios, coitados!!
O pior episódio que vivi em Bali com animais foi com o resgate de uma tartaruga.
Estávamos em Medewi e era 19h00. Decidimos sair do hotel e ir até um warung que ficava ao cimo da rua, pois tínhamos visto vários turistas dirigirem-se para lá e achámos que seria um bom local para jantar. Ia-mos rua acima, de lanterna na mão (em Bali às 18h00 já é noite), quando vimos 2 indivíduos debruçados sobre algo que parecia ser uma rocha. Aproximamo-nos e vimos que era uma enorme tartaruga, com os seu 20 kg bem pesados. Perguntamos o que fazia ali a tartaruga, visto estarmos a cerca de 300 mts do mar e um animal daquele porte e daquela condição não seria capaz de se arrastar sozinho até aquele local.
Responderam-nos que tinha sido um pescador que a tinha apanhado nas redes e a queria vender. Ficamos imediatamente nervosos e revoltados com a situação. Um animal em extinção nas mão de gente sem escrúpulos. Perguntámos se era para comer, ao que responderam que sim. Ainda mais revoltados: tantos animais que se criam para comer, não é necessário comer um animal daqueles!! Perguntámos quanto ele queria pelo animal para o devolver ao mar. Eles disseram que não sabiam, que tinham que ir chamar o “dono” da tartaruga. Dissemos-lhes que fossem e lá foram. Entretanto, começaram a juntar-se pessoas, locais, curiosas com a questão. Passaram também no local uns Americanos que tiveram muita peninha da tartaruga, coitadinha, mas andaram sempre!!
A tartaruga por sua vez, estava muito stressada com aquela confusão toda e chorava. Duas lágrimas corriam dos seus olhos. Uma moça que estava no local foi buscar água e molhámos a tartaruga. Só mais tarde me apercebi que também já estava toda amarrada com cordas. Entretanto tentámos convencer os presentes a levar a tartaruga para o mar, mas todos se recusavam, dizendo que não o podiam fazer sem a autorização do “dono”.
Quando finalmente chegou o “dono” da tartaruga, perguntámos-lhe quanto queria para a colocar no mar. Disse-nos imediatamente Rp 70.000 (aproximadamente 4€!!!). Dissemos-lhe que dávamos Rp 50.000 (3€ e tal) e mostramos-lhe a nota. Após alguma hesitação, lá acabou por aceitar. Apertou-nos a mão como quem faz um negócio, cortámos as cordas que prendiam a tartaruga e com a ajuda de todos os presente colocámos a tartaruga de volta no mar. Como a maré estava vaza e havia muitas pedras, não foi possível colocá-la no mar. Deixámo-la numa poça, molhamo-la bem, o que a tranquilizou muito, e fomos jantar. Quando regressamos, a maré tinha subido e não havia vestígios da tartaruga.
Tentámos explicar que com aquele tipo de atitudes, acabariam por perder o turismo, pois a natureza selvagem é um dos atractivos daqueles locais. Sem coisas bonitas para ver, os turistas não vão a Bali, pois para ver pessoas, não vale a pena andar 22 horas de avião!!
Acenaram com a cabeça, mas fiquei convencida que não tinham percebido nada. Não sei se salvamos a tartaruga ou se adiamos por um dia a sua morte. Só sei que fiquei mais tranquila naquele dia e mais triste com a constatação de que o ser humano é realmente maquiavélico.Mais tarde, quando regressamos a Balangan, no Flower Bud Bungalows, o Welley explicou-nos que esta prática é punida por lei e os infractores são presos. Também nos explicou que as lágrimas da tartaruga eram de choro e de medo. Havia uma esquadra de polícia ao cimo da rua onde vivemos esta situação, mas nunca me passou pela cabeça que eles fizessem alguma coisa. Sempre achei que o mais provável era sermos nós presos por estarmos a interferir com as práticas locais!!!

1 comentário:

Célia Sousa disse...

Olá Rita! Tenho andado um pouco ausente do teu cantinho e já vi que tenho alguma leitura para pôr em dia! eheh
Espero que estejas bem!

Realmente deves ter muito para contar de um país que aos olhos da tua descrição parece fascinante!

Beijinhos