Depois de Ekas, seguimos rumo a Kuta. Há que fazer aqui uma pausa para esclarecer que Kuta – Lombok é em nada semelhante a Kuta – Bali, embora tenham o mesmo nome e sejam por vezes alvo de grandes confusões. Kuta – Bali é o verdadeiro “Texas”: praia de cidade, trânsito, turistas, lojas, restaurantes, e tudo isto às centenas. Kuta – Lombok tem tudo isto mas 100 vezes menos!! É uma vila calma, com turistas, hotéis e restaurantes q.b.
Desfeitos os enganos, lá chegámos ao nosso destino, após percorrermos 40 km em 2 horas (sempre sem parar. Aliás, parámos uma vez para levantar dinheiro pois em Kuta não há caixas multibanco) sempre em estrada de asfalto onde circulava um pouco de tudo: adultos, crianças, cães, galinhas, vacas, cabras,... enfim, sobrava qualquer nesga de estrada para os carros.
Chegados ao nosso destino – Novotel Lombok – nem queria acreditar: HORROR!!! O típico resort “pulseira-no-braço” mesmo como eu detesto (ou detestava): pequeno-almoço na colina às 08h00, tiro ao arco às 09h00, exposição às 10h00, aulas de aeróbica na piscina às 11h00,... e tudo imaculadamente arrumado, limpo, perfeito... o staff excelente: como em toda a Indonésia, sempre prontos a ajudar e a agradar.
Nem me via a fazer aquela vida!! Assim, alugámos uma mota no hotel por 2 horas e fomos rapidamente alugar uma mota à vila (metade do preço do hotel) para nos podermos deslocar e ver livres daquela organização. Chegados à vila (o Jorge já levava algumas referências do Lonely Planet) perguntámoss a um ocidental (que estava também ele na posse de uma mota) onde poderíamos alugar uma a um preço maneiro. Indicou-nos logo um individuo que estava ao seu lado, Indonésio, de seu nome “Hang” com o qual negociámos o aluguer da mota e o combustível (lá, os negócios são a montante e a jusante!!). E lá ficámos com a mota por uma semana. Mal sabíamos era que teríamos que suar várias vezes para a pôr a trabalhar e que teríamos que pedir ajuda a ½ Lombok para a reparar (o que não foi difícil, pois eles adoram ser prestáveis e devem adorar gozar com os “Bulé” como nos chamam, assim como nós chamamos “Camones” aos estrangeiros que nos visitam).
A nossa maior aventura foi no dia em que decidimos ir a Mawi Beach. Para lá, ainda fomos bem, ainda que a estrada fosse um caos, não só por causa dos transeuntes, mas mais até por causa do estado da estrada: tinha alguns bocadinhos de asfalto nos buracos!!
Mawi Beach é realmente daquelas paisagens inesquecíveis: o mar surge enquadrado entre colinas e no meio de uma suave bruma, o que lhe dá um aspecto de paraíso perdido. Mas o paraíso acabou quando decidimos regressar. Estava um dia de sol escaldante, embora com umas nuvens muito negras no céu, prenuncio de grande chuvada. Saímos da praia com a convicção de apanhar umas pingas. Azar: a chuva começou a cair com uma tal intensidade que nos impediu de avançar, pois para além de não se ver nada, as pingas doíam no corpo. Assim, encostámos num sitio que julgámos ser um warung. Mais uma vez, azar: era uma aldeia local. O povo veio logo chamar-nos para nos abrigarmos (tipicamente indonésio...). Estavam o chefe da aldeia e o filho. Mais afastados estavam os restantes membros: mulheres, crianças e velhos. Ficamos debaixo de um coberto, mas como eles não falavam inglês (nem coisa que se pareça...) a comunicação foi muito bizarra. O velhote começou a engraçar-se do meu relógio: tirei-o do pulso e dei-lho (embora ele não soube-se ver as horas...).
A velhota (supostamente mulher dele), começou a engraçar-se das minhas havaianas e uma outra mulher da minha saída de praia e eu já estava a ver a minha vida a andar para trás a sair dali nua em pelota!! Embora a chuva não tivesse abrandado saímos dali o quanto antes e continuámos caminho tendo parado mais à frente num sitio mais “deserto”. Pelo caminho via-mos imensas crianças nuas, de todas as idades, a tomar banho nas poças da estrada numa felicidade contagiante, pois a chuva é quente e as poças fazem de piscinas. Passámos por um rio que nos fez lembrar a catástrofe da Madeira, tal era o caudal de água barrenta que se formou em cerca de 1/2 hora. E quando conseguimos finalmente alcançar o Ashtari Restaurante, depois daquela chuva toda, buracos, lama e derrapagens, sentimo-nos em casa. Uma refeição vegetariana e um chá bem quente confortaram-nos o corpo e a alma.
Não choveu mais nesse dia e não chegou a chover sequer em Kuta. Só mesmo no caminho de Mawi, para nos proporcionar uma aventura verdadeiramente jungle.
Os restantes dias em Kuta foram divididos entre surfadas matinais em Gerupuk e na onda do hotel, almoços diários no Ashtari, passeios pelas redondezas, fins de tarde na praia do hotel a explorar o reef na maré vaza e jantares nos warungs locais de Kuta, onde a comida é de confecção algo duvidosa. Nos últimos dias, e dado que o Jorge ia sempre surfar Gerupuk Bay, acabei por me render aos confortos do hotel e alinhar nas aulas de aeróbica matinais enquanto ele dava as suas surfadas. Reconheço que foi um dos melhores hotéis onde já estive e tenho muitas saudades. Realmente a “pulseira-no-braço” não é assim tão má como eu pensava. E mais: se alguma vez voltar a Kuta, certamente será o meu hotel de eleição!!